O peso das condicionantes externas no conflito foi decisivo, tanto no despoletar da iniciativa restauracionista, como em toda a evolução ulterior do conflito, desde logo, porque limitaram drasticamente a capacidade de manobra da monarquia hispânica. A guerra que esta sustentava com os holandeses desde 1621 conheceu um revés que afectou a armada em 1639; na primavera de 1640 rebentou a rebelião da Catalunha cujo esmagamento os conselheiros de Filipe IV consideraram sempre prioritário sobre a intervenção na cena portuguesa; a guerra decisiva com a França começara em 1635; e as sublevações de Nápoles e da Sicília rebentariam em 1646. Para além disto, o apoio inicial da França foi fundamental para a causa dos conjurados portugueses, depois negativamente afectada pela morte do Cardeal Richelieu em 1642. De resto, as primeiras armas importantes dos habsburgos contra Portugal foram o pouco eficaz bloqueio comercial e, sobretudo, o isolamento diplomático, bastante efectivo e dramático nos seus efeitos. De facto, os «rebeldes» portugueses tardaram a obter o reconhecimento internacional e viram-se preteridos nos grandes acordos (Vestefália e Pirinéus). Apesar das promessas iniciais, o tratado formal com a França não se chegou a assinar. As relações foram até interrompidas, apesar de ter sido nesse contexto, graças à protecção do Marechal Turenne, que se negociou a vinda de Schomberg para Portugal e o casamento de D.Afonso VI. Com a Inglaterra houve também agitadas negociações e peripécias, mas vieram de lá tropas mercenárias, uma aliança matrimonial custosa (D.Catarina, rainha de Inglaterra) e a intermediação para a paz final com Espanha em 1668. Apesar de todos o esforços, só depois desta assinada a Santa Sé restabeleceu relações diplomáticas com Portugal. E não oferece dúvidas que a ligação à Inglaterra foi relevante para o triunfo final da causa restauracionista.
Importa acentuar que, particularmente no período de trégua tácita de 1647-
De alguma forma, é só então que a guerra se desenrola em plenitude no cenário europeu. Nas fases iniciais do conflito houve apenas algumas acções ofensivas, escassas no conjunto, como a que se traduziu na vitória portuguesa no Montijo (1644). Mas com a estabilização da Catalunha e o fim do conflito com França (1659), os recursos da monarquia Hispânica são finalmente canalizados para a guerra com Portugal. A batalha da Linhas de Elvas (1659) antecede a entrada na fase decisiva da guerra, aquela que foi mais celebrada pela posteridade e associada à influência do Conde de Schomberg e à capacidade organizativa do 3ºConde de Castelo Melhor. As vitórias portuguesas do Ameixial (1663), Castelo Rodrigo (1664) e Montes Claros (1665) praticamente encerram o conflito apesar da paz só ser assinada em 1668.
A imagem heróica da guerra da restauração vista por aqueles que a venceram foi fixada para a posteridade pelo 3ºConde da Ericeira. No entanto, mesmo se as tropas mobilizadas chegaram a ultrapassar os 15.000 efectivos de infantaria e os 5.000 de cavalaria, a verdade «o exército que o rei dos portugueses pode reunir é (…) uma amálgama de forças permanentes e de forças “milicianas”, chamadas em situações de perigo» (F.D. Costa). Para além das dificuldades financeiras permanentes, as insuficiências do recrutamento militar foram sempre enfrentadas com grandes dificuldades. E a incapacidade crónica das ordenanças nesse terreno conduziu recorrentemente às violentas levas de homens e ao levantamento de homens feito pelos capitães e senhores por sua conta. A vitória de 1668 não foi apenas a da nova dinastia que consagrava a autonomia do reino de Portugal, mas também a da elite aristocrática que se destacou na guerra e onde pontificam, entre tantas outras, figuras de chefes militares como as do 1ºConde de Vila Flor ou do 3ºConde de Cantanhede, feito 1ºMarquês de Marialva. A guerra e a vitória final consagrariam durante mais de um século o pacto entre a dinastia e a aristocracia que a sustentara pelas armas.